terça-feira, 4 de março de 2014

São Paulo - Ilha Comprida

Nesse Carnaval estávamos em busca de alguma praia mas sem confusão de trânsito para chegar e grande lotação de pessoas. Ah, e sem também grandes necessidades de planejamento, viagem de avião, enfim, algum lugar para “relaxar”.

Planejamento
Após alguma pesquisa e conversa com amigos, decidimos ir para Ilha Comprida. Essa cidade insular fica no extremo sul do Litoral Paulista e possui uma frente ao mar com 74 Km de comprimento. Por ficar no extremo sul, é possível chegar nela pela BR116, sem a necessidade de passar pela cidade de São Paulo ou mesmo usar o caminho do litoral Sul mais conhecido (Santos, Guarujá, etc...), ou seja, esperávamos um trânsito “aceitável”.
Quanto ao local de hospedagem, por ser carnaval, todos os lugares estavam trabalhando com mesma faixa de preço, em torno de R$ 1000,00 para os 5 dias de carnaval. Porém achamos um local com chalés mobiliados, com cozinha (sem café da manhã) que estava bem mais em conta, R$ 650,00 pelos 5 dias (entrada na 6ª. Feira e saída na 4ª. Feira). O nome do local é Villagio Riviera (http://villaggioriviera.com.br/). Colocando o endereço do local no Google Maps notamos que ele ficava há apenas 3 Km do centro onde ocorreriam todo agito do Carnaval (o que seria ótimo, já que é longe o bastante para não sofrer incômodo e perto o bastante para ir a pé se quiséssemos). Além de ser frente ao mar (como quase tudo lá é).
E por fim, a escolha de Ilha Comprida também se deve ao fato de encontrarmos muito material na Internet indicando a Ilha como paraíso de observação dos pássaros, entre os mais interessantes, o Guará Vermelho. Também encontramos informações sobre o Boto Cinza que habita a região do mar de dentro (parte da ilha com vista ao lado do continente).

Primeiros Erros
Chegado o dia, colocamos o planejamento em prática. Chegamos na BR116 por volta de 15h30m da 6ª. Feira de Carnaval, e.... TUDO PARADO!!! Como nunca havíamos utilizado essa rodovia antes, não sabíamos que o trecho mais perigoso da BR116, a Serra do Cafezal estava em obras. Com isso perdemos 3 horas só para atravessar o trecho em obras (de apenas 7Km de extensão). Dessa forma, fica a dica de antes de sair por essa rodovia, entre no site http://www.autopistaregis.com.br/ ou em contato direto com a administradora da Rodovia (0800-7090-116) para se informar das condições do trecho.
Depois então de trânsito e estradas complicadas (há um trecho final de estrada simples e de serra), chegamos à ponte que liga o continente à Ilha Comprida. Você precisa pagar um pedágio de R$ 4,00 (não há Sem Parar ou qualquer outro pagamento eletrônico) e chega finalmente na Ilha. Como já se passavam das 20hs e chovia um pouco, a visibilidade estava prejudicada. Seguimos o caminho do GPS e.... para nossa surpresa... não havia o número do endereço nos 3 Km do Centro. Na verdade descobrimos que estávamos muito, mas muito longe do centro. Como essa frente mar de Ilha Comprida só possui inúmeras construções no centro e, a medida que você vai se afastando, as construções vão ficando mais “rarefeitas”, tínhamos sempre a impressão que estávamos no local errado.
Como essa dúvida só aumentava a medida que afastávamos do centro (já tinha passado 7km), paramos em uma pousada para pedir informação. O Senhor de lá indicou que faltava um pouco para chegar, mas, na tentativa de ganhar mais alguns clientes, ofereceu sua pousada para nós, indicando que a nossa era suja e usou outros adjetivos para tentar nos fazer mudar de ideia. Não gostamos muito dessa atitude, mas ficamos grato pela informação de como chegar.
Enfim, pousada... Uma senhora nos recebeu, indicou que estavam sem conexão com internet e não conseguiam ver nosso comprovante de depósito e ela não sabia da nossa chegada. Mas tudo bem, falamos o valor do depósito e o tipo de chalé e ela já nos encaminhou para o local.
O chalé é bem simples, mas tranquilo. O fogão era um desses de duas bocas, a geladeira era grande até e havia algumas panelas e louça para utilizarmos. Havia um ventilador de chão, mas nem ligamos porque levamos o nosso, desses que você pode colocar água, e foi bem útil. Como estava tudo escuro, não pudemos observar mais detalhes do local.
Dia seguinte, sol. Verificamos melhor o local e notamos que foi muito bem construído. Há uma grande área rodeada por árvores bem grande e plantadas simetricamente formando quadrados perfeitos para a área de Camping. Os chalés também foram bem feitos, todos com forro de madeira, utilizando materiais típicos de cidades litorâneas. Porém o que notamos é que em algum momento o plano de negócio original não pode ser mantido, e notamos que há muita carência de manutenção. Um exemplo é que haviam dois chalés geminados (os nossos também eram geminados, mas há a possibilidade de se alugar chalés isolados) ao lado do nosso que estavam circundados por tapumes, já que não podiam ser utilizados, uma vez que o telhado estava quebrado e provavelmente dentro deles era inabitável.
Na recepção é possível ver um local que daria um ótimo restaurante, porém em total desuso com pintura um pouco gasta e sinais de reformas não finalizadas.
A piscina que existe no local é pequena, mas haviam crianças se divertindo ali. Como são 74Km de praia, nem perdemos muito tempo com isso. Rs.
Fazendo uma média com o preço dos demais estabelecimentos, entendemos que estávamos bem alojados. Mas pensando em que em Caraguatatuba ficamos em um local muito superior por um preço equivalente (R$ 140,00 - post Caraguatatuba), aí já se vê que há uma precificação acima do mercado para o local, pois o chalé era realmente simples, para pessoas muito pouco exigentes.

Praias
As areias da Ilha Comprida são de um cinza escuro, e a água é também escura em vista disso. Lembra bem a praia de Santos, apesar de somente no centro haver uma extensão de areia tão grande quanto. Na ponta que estávamos (extremo norte da ilha) a praia era bem deserta. Havia um quiosque bar e mais nada de estrutura. Era bacana para ficarmos em meio ao nada, andando bem pouco para isso. 

Praia em frente à nossa hospedagem

Conforme você vai descendo sentido centro (sul em relação onde estávamos), a praia vai tendo mais gente e do lado direito, há mais construções. Porém há uma faixa entre a estrada e o mar com pequeninas dunas e árvores. Assim o acesso à praia ocorre km a km.
No centro tudo muda de figura. Há muito comércio, transito, e muita pessoa e barraquinhas na praia. Como era Carnaval, havia até um trio elétrico na praia com “Lambaeróbica” para o povo mais agitado. Ah sim, e “Lepo Lepo” tocando até no radinho da barraquinha de batidas.
Descendo mais ao sul ainda, você será obrigado a trafegar pela praia. Sim, em toda extensão norte é proibido, com placas grandes assinalando que não é permitido veículos na praia. Mas no sul você não só é permitido a entrar na praia, como é uma estrada onde até ônibus circulares e intermunicipais circulam. A razão disso é que a ponte que citamos acima foi construída mais recentemente. Antes disso o acesso à ilha era (e ainda existe isso) feito por uma balsa que atravessa o mar do sul da ilha.
O interessante é que há um período de maré alta que não dá para circular por esse caminho, então é bom se manter informado das condições da maré antes de entrar na praia!
E é por esse caminho que você consegue chegar nas dunas de Ilha Comprida. Fica há uns 3 Km ao sul de onde você entra na areia. As dunas não são altas e qualquer um consegue subir e avistar uma paisagem bem bacana. 

Dunas
Dunas

Vista de cima das dunas


Seria mais bacana ainda não fosse o total desprezo de algumas pessoas pela preservação do local. Pessoas fazem verdadeiros pique-niques nesse local e acabam deixando muito, mas muito vestígio mesmo. Há lixo espalhado para todo canto. Além disso, como alguns consideram muito divertido andar de carro na praia, há pessoas que exageram e acabam fazendo manobras profissionais próximo de pessoas (como zerinho, cavalo de pau).

Lixo em frente às dunas (as mesmas das fotos anteriores, cortamos o lixo para verem sem interferência)

Detalhe do lixo


Cremos que a ausência de fiscais, polícia ou mesmo guarda-municipal nesse local pode favorecer esse tipo de comportamento. Em todo trecho de praia encontramos somente um salva-vidas logo na entrada da praia, onde há 3 quiosques grandes, fazendo algum tipo de patrulha. E não avistamos mais nada praia adentro.
Depois de passearmos pelas dunas, voltamos e ficamos em um dos quiosques que ficam nessa entrada da praia. Para quem gosta de experimentar produtos locais, não deixem de provar a Pinga com Cataia (uma erva local). Quase todo bar e quiosque possui essa bebida típica de Ilha Comprida e Cananéia. O mar lá é como em toda extensão da ilha, um pouco agitado por ser mar aberto.

Cidade
Ilha Comprida conta com poucos quiosques de praia fora da região central, existindo então somente em locais que há algum tipo de aglomeração de pessoas (como em frente ao nosso chalé, ou na entrada da praia de carro, no sul). Já no centro é que tudo acontece. Há vários quiosques de todos os tamanhos, além de barraquinhas (tudo isso na praia). Atravessando a rua há muito comércio e vários restaurantes. Fomos no Restaurante e Pizzaria O Portuga uma noite. Pedimos pizza e estava interessante, mas achamos um pouco caro pelo produto oferecido. Já no almoço fomos sempre no Restaurante e Pizzaria Biritas (todos na Avenida Beira Mar), que contava com um buffet por Kg (um preço que entendemos também acima do esperado – R$ 37,00 o Kg).
Já ao passear pela cidade notamos que fora do centro deve ter havido algum grande problema com Ilha Comprida. Há muitos imóveis à Venda. Mas muitos mesmo. Também é possível notar que há outros tantos, que são até grandes, mas estão abandonados. Ao andar pela Beira Mar, sentido norte, notamos que algumas casas e até algo que nos disseram ser um restaurante, foi invadido pelas águas do mar e ruíram. Sim, há ruínas na praia! E casas caindo, literalmente.
Pelo que nos explicaram, em algum momento o mar chegou a subir muito e acabou com essas construções. Claro que não sabemos como elas foram autorizadas a serem feitas, se o local apresentava esse risco...

Ruínas de um quiosque de praia

Mais destroços

O que notamos ao certo é que Ilha Comprida é muito plana e, apesar de ser comprida (no sentido Norte – Sul) é bem estreita. É possível de alguns lugares avistar tanto o mar de dentro quanto o mar aberto. E se o aquecimento global e a elevação dos mares for um fato de efeito real, imaginem o que poderia acontecer com essa ilha!!!
O que gostamos de fato é que Ilha Comprida, mesmo no Carnaval e com bastante gente, possui tanta extensão de praia que é possível você curtir um agito e relaxar somente ao som do mar, andando poucos Km para isso.

Natureza
Aqui fica a frustração final. Já havíamos descartado tentar avistar o Boto Cinza mesmo antes de chegar à Ilha. Porém queríamos avistar o Guará Vermelho. Sabíamos que ele se encontra no Mar de Dentro e estávamos em busca do local de melhor possibilidade de avistar. Em um certo momento paramos um senhor de bicicleta para perguntar se ele tinha informações sobre o pássaro. A resposta do senhor foi desconcertante: “Esse bicho não aparece mais aqui não!”, foi simples, direto e desconcertante. Segundo ele, que já morava na ilha desde o começo dos anos 80, a fauna local foi totalmente desaparecendo com o aumento de pessoas pela ilha. Ele que conta que quando chegou era possível avistar grandes números desse pássaro, hoje, tendo inclusive uma filha bióloga, nota que é quase impossível vê-lo. Ainda assim tentamos ir no local onde seria o ninhal dos Guarás e a única coisa que havia lá era uma placa dizendo que aquele local era de preservação pois haviam ninhos dos guarás, mas o pássaro que é bom, nem sinal....
Bom, com esse tipo de informação, acrescido das imagens que postamos acima, do descaso das pessoas pela Natureza, é de se esperar que o que veremos em breve, em todos os pontos turísticos, será somente a Natureza Humana....

Conclusão
Ilha Comprida vale uma visita. Claro desde que não precisem de grandes gastos de deslocamento só para conhecê-la. Mas vale visitar e conhecer uma ilha que, em algum momento deve ter sido considerada um paraíso, mas que, com o passar dos anos teve sua paisagem toda modificada.
Para os mais interessados, vejam também de explorar um pouco a Cananéia, uma reserva de mata que possui expedições de barco. E é dessa forma que se avistam os botos cinza.
Até a próxima!!!